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Auto declaração

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Quem me conhece sabe que eu detesto a academia. Detesto as notas A B C D das revistas, o desmembramento de trabalhos extensos em pequenos artigos para mais publicações, a orientação de alunos da graduação para adicionar ao currículo, a luta de ego nos departamentos. Longe de mim me tornar uma escrava-textual da Plataforma Lattes. Entretanto, para não se ganhar novecentos e oitenta reais com meia matrícula trabalhando no estado do Rio, precisamos fazer algumas concessões tais como entrar num mestrado e num doutorado correndo para sermos minimamente reconhecidas/os. Foi nessa odisséia moderna que me predispus a fazer uma pós-graduação em sociologia. Maior correria. Deixei tudo para a última hora, me derreti nas ruas do centro para tirar foto 3x4, imprimir históricos e certificados e paguei a inscrição no susto. No momento da inscrição, no entanto, descubro que o pagamento estava errado - o número de referência não batia com o do departamento. Pééééééé, não fui aceita. A secretária

L'amour on the road

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O amor na estrada tem manias engraçadas. Como o revezamento de mamilos ao pobre coitado que pega a direção e tem as mãos ocupadas. Às vezes com a saliva seca e pura, outras com o gosto de cigarro, mas também acontece com a calda de morango do açaí de sete reais, já quase atropelando um burrinho serelepe solto durante nossas lambanças de mucosas. O chacoalhar nos estacionamentos universitários e as dores nas juntas dos agachamentos contínuos em posições pitorescas, como conclusão inesperada, gastam os amortecedores nas quicadas pulsantes prensadas a frio - como o suor - de nervosismo tesalucinante nos dias quentes das tardes sem fim. De putaria clássica, a rápida punheta despretenciosa que surpreendentemente (ninguém esperava!) vira uma sucção demorada e ansiosa entre passadas de marcha na BR 101. Nas paradas necessárias, rápidas inserções manuais em canais vaginas e esfíncteres. Com areia quando necessário pela textura tesão-contínuo nas paredes vascularizadas. Mucosa com mucos

Moisés

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Queria contar pra vocês minha história com um rapaz chamado Moisés. Moisés tem entre 20 e 21 anos. Ele deve ter 1,8m pra mais, é esbelto e bem bonito. Conheci Moisés no final do ano passado voltando a pé da UFRJ depois de ter bebido umas cervejas. No nosso primeiro encontro Moisés puxou minha bolsa e em seguida me acertou um soco na cara. Nosso diálogo foi rápido e intenso: "Não reage, não fala nada" Enquanto corria eufórica atrás dele, desferi as palavras: "Por que você tá fazendo isso?" Nosso único diálogo. Moisés morou na minha cabeça durante alguns dias. A sensação? Algo entre cuidado e angústia. Moisés foi preso na mesma noite e eu precisei pegar minha bolsa e documentos na delegacia. Minha primeira noite de insônia pensando nele deu vida a uma cartinha que escrevi a mão. Fortuitamente ou não essa carta nunca pôde ser entregue. Tive, então, meu segundo encontro com Moisés em uma sala de reconhecimento. O medo de ser vista só era superado pelo d

Le féminin sacré

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Aqui algumas reflexões sobre o "sagrado feminino". Em algum momento li "Está a mulher para o homem assim como a natureza para a cultura?" de Sherry Ortner, onde ela que diz que enquanto o corpo biológico masculino é projetado para ele mesmo, o corpo biológico feminino é projetado para outro ser, para uma criança que está por vir, para a natureza. Os processos que vivemos relacionados ao útero são dolorosos e desgastantes durante a vida: a menstruação (pré, durante e pós), a gestação, parir, a lactação e a menopausa. Existe aí, sim, algo que grita e que não é nosso. Como se o bom funcionamento do corpo fosse interrompido por uma doença súbita, algo que nos põe de cama, nos deixa com cólica, estressadas ou tristes. Esses processos acontecem quando adoecemos e muitas de nós passam por eles mensalmente - a interrupção do "correto" funcionamento corporal. Não por esse "chamado da natureza", no entanto, que me parece correto crer que temos algo ~

Assaut

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Se apaixonar parece ser assaltada. Às vezes você sente que algo está por vir, ou até que já aconteceu. Eu chamo isso, particularmente, de estalo. Geralmente eu ignora o estalo mas ele grita fazendo um escândalo dentro do estômago - ah! e como grita. Daí a abordagem: rápida, astuta, de surpresa. O coração palpita, as pupilas dobram de tamanho, os hormônios fogem pelos poros. Viro bicho. O diálogo, essencial, calculado - não posso xingar, não posso me declarar, não posso correr, não posso te agarrar. Te olho no olho, olho a boca, as mãos. Te leio cima abaixo. Quero segurar seus pulsos, te quero meio longe meio perto. Tenho medo de quanto está perto mas o longe continua sendo assustador. Entrego tudo: a bolsa, o celular, o corpo, o coração. Entrego os beijos e a palpitação. O som. Não me sinto obrigada, dou porque quero, podia não dar. Mas... e se não desse? Me arrependeria, sofreria, me safaria? Prefiro entregar tudo, mas já aconteceu de não o fazer. Te tomo algo algo também -

Rafael

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Já meio atrasada parei no sinal. Impaciente. Vi um homem, alto, usava uma bermuda e nenhuma camisa. Tava calor pra caralho. Pediu alguma coisa pra uma menina que tava esperando o sinal abrir. Depois de uma provável recusa ele se afastou e a menina foi pro meio da rua. Ele continuou. Entrou em uma lanchonete e falou com outra mulher – depois de passar por uns dois homens que também estavam sentados no balcão. Falou alguma coisa, a mulher lhe deu uma nota de dois reais e mais algumas moedas. Ele parecia apontar pra uma lanchonete do outro lado da rua. Atravessei quando o sinal fechou. Cheguei perto, ele nem percebeu. “Ei, nego, vamo lá que eu te pago” Toquei nele. A pele seca. “Pô, brigadão” Entramos numa lanchonete que tinham uns pratos feitos. Um chinês atendia. Em cima dele um cardápio com vários pratos, de R$15 a R$19. “O que você quer?” “Frango empanado” Debrucei no balcão. Pedi um frango empanado pro chinês. “Pode ser um guaraná também?”, ele pediu. Não