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Affichage des articles du janvier, 2011

La gomme

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Eu nunca gostei de goma de mascar. Provavelmente pelo fato de que há sempre uma explosão de sabor quando é posta em contato com as papilas degustativas na parte superior da língua. Com o tempo talvez até você se apegue a essa borracha mastigável e colorida, de forma que fica difícil se livrar dela: começamos a brincar com a mesma, jogando-a de um lado para o outro da boca como se as bochechas brigassem para não ficarem com a mesma, jogando-a uma contra a outra, ou fazendo as tão famosas bolas quase transparentes enchidas por um rasgo na boca onde se sopra o ar. Você pensa inúmeras vezes em jogá-la fora; mas o lixo é muito distante, ou a preguiça é maior, ou não deu a hora do almoço ainda e, enfim, lá ela continuará sem sequer saber que o seu juízo final está por vir. A partir do momento que os maxilares finalmente se cansam da mastigação interminável e o sabor não passa de o da sua própria saliva, de repente seja esse o momento para finalmente descartar aquela goma que fora motivo

Ressaca moral

Tem vezes que a única ação possível a ser tomada dentro do poço é cavar mais. A vida é um ciclo vicioso que te faz deparar sempre com um carrossel de emoções. É impossivel dar atenção a tudo e a todos quando você mesmo carece dela. É como ir numa boate no inferno: você sabe onde está, mas simplesmente ignora jogando sua cabeça em cima de um alguém qualquer ou dentro de um copo de uísque. No dia seguinte, no entanto, além de estar no inferno vai bater aquela ressaca do capeta (sou boa com trocadilhos, pode falar). Aceitar a si mesmo, à sua própria vida, não é nem um pouco fácil. Queremos sempre mais. Isso talvez seja o que nos põe para frente, mas ao mesmo tempo nos dá mais alguns metros de profundidade no poço. Drogas, cânceres, libido a flor da pele e falhas de comunicação: tudo junto de forma sádica. E eu continuo dançando e enchendo a cara só me preparando para a porrada na cara que vai ser acordar no inferno. De ressaca.

Para uma avenca partindo

por Caio Fernando Abreu em O Ovo Apunhalado Olha, antes do ônibus partir eu tenho uma porção de coisas pra te dizer, dessas coisas assim que não se dizem costumeiramente, sabe, dessas coisas tão difíceis de serem ditas que geralmente ficam caladas, porque nunca se sabe nem como serão ditas nem como serão ouvidas, compreende? Olha, falta muito pouco tempo, e se eu não te disser agora talvez não diga nunca mais, porque tanto eu como você sentiremos uma falta enorme dessas coisas, e se elas não chegarem a ser ditas nem eu nem você nos sentiremos satisfeitos com tudo que existimos, porque elas não foram existidas completamente, entende, porque as vivemos apenas naquela dimensão em que é permitido viver, não, não é isso que eu quero dizer, não existe uma dimensão permitida e uma outra proibida, indevassável, não me entenda mal, mas é que a gente tem tanto medo de penetrar naquilo que não sabe se terá coragem de viver, no mais fundo, eu quero dizer, é isso mesmo, você está acompanhando me