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Verbe

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É absolutamente visível toda essa particularidade sua, absurda e toda essa dor corrosiva esse medo longínquo de se encarar de frente É comparável à minha talvez auto-crítica física invisível inexistente materialmente, mas de forma ou outra existe, dentro, afundada nas entranhas relembrada religiosamente É compreensível e até adorável mas de sentimentalismo e delicadeza, o mundo não quer mais nem ele nem gente gente assim, eu, e é dessa delicadeza morta desse sentimentalismo falso de todo esse amor perfeccionista e essa falta do verbo amar Porque se fala de amor se fala de querer e de gostar mas não se fala do verbo amar, não é proveitoso não é bonito o suficiente não é egoísta o bastante e o amor é esse amor mesquinho a paixão incandescente doentia recalcada com os olhos nas almas alheias com a mente nos sorrisos terceiros nos montes de mentiras que sabem todos sua cruel realidade Fale comigo do verbo amar não do amor louco, fogo, paixão e devoção eterna, diga só que pretende ama

Sobre humor e políticos

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A cada dia que passa parece que mais se polemiza a infelicidade no comentário de Rafinha Bastos no último CQC em que ainda estava como apresentador. Vejo com muita freqüência montes de imagens e gente discutindo o assunto em sites como o Facebook e sites de notícia. Mas, afinal, o que causou tanto rebuliço assim?                Teoricamente, a frase que teria desencadeado tudo isso seria ele se referindo à Wanessa Camargo grávida: “Eu comeria ela e o bebê”. O marido da então cantora teria um certo poder em relação a Band e ameaçou tirar dinheiro que tinha investido ali. O canal tirou imediatamente o humorista do canal e daí surgiram todos esses “movimentos” virtuais criticando ou apoiando Rafinha. O ponto principal disso tudo não é esse exclusivo comentário relacionado à Wanessa Camargo e seu maridão rico. É óbvio que ele só foi retirado do programa porque tinha muito dinheiro e poder envolvido nisso tudo. As pessoas se esquecem, no entanto, que há algum tempo atrás – papo de

Prendre soin de soi

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Às vezes é impressionante o quanto a vida muda em questão de segundos. Um segundo você está voltando pra casa de moto, no outro está sem um dedo. Um segundo você está trepando, no outro está grávida. Um segundo você está sóbrio, no outro entrando em coma alcoólico. Talvez as decisões mais importantes da vida sejam tomadas em segundos: é o "não, vou respeitar a sinalização" ou o "não, querido, se não tem camisinha a gente deixa pra lá" ou até o "parei de beber, já foram três cascos". E não adianta o pensamento "pós-merda" do tipo "ah, mas eu pensei em fazer isso", "poxa, mas eu quis agir dessa forma", "não, é que estavam forçando muito a barra" porque depois não tem mais volta. Fico impressionada com o quanto decisões sérias são vistas como desnecessárias em várias ocasiões. Afinal, é chato pra caralho ficar colocando capacete e demorar mais tempo pra chegar em casa por conta da sinalização correta, ou esperar o mo

Sobre falta de dedos

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Faz algum tempo que, depois de um puta show que fui e dei carona a dois amigos no carro do meu pai, terminou em dor de cabeça. Ao seguirmos alguns metros para deixar a primeira pessoa, esta me abre a porta do carro (a menos de um metro da calçada) sem olhar, quando uma moto passa por esse mesmo espaço mínimo. O que se procedeu foi o dedo da menina, que estava no carona da moto, esmagado. Eu e meu pai a levamos a um hospital perto, no meio de gemidos dignos de uma cadela no cio e uma velocidade suficiente para posteriores multas de trânsito. A ficha foi preenchida, a mulher atendida e o motoqueiro e o namorado da “desdedada” chegaram. Fomos embora deixando telefones para algum problema que poderia aparecer depois. Eis que resolve nos ligar, uma semana depois, a menina sem dedo falando que já havia gastado duzentos reais em medicamentos até o dado momento e exigindo o depósito de alguma quantia para ajudá-la a pagar os remédios. Meu pai sempre teve um coração de ouro e não poupou esfor

Dançando na Primavera

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Ana Primavera havia feito dezesseis anos naquele ano e, de uma hora para outra, respirava um ar mais leve. Vestia todo verão aquele mesmo vestido amarelo acima dos joelhos e suas sandálias rasteiras mostrando as unhas dos pés pintadas de azul. Tinha olheiras porque acordava cedo para ir à praia e dormia tarde para fazer amor. Amor este que tinha o nome de Samuel da Dança, que no verão continuava usando as calças jeans por ter vergonha da magreza das pernas. E nos pés uns chinelos de cor escura porque de colorida já bastava Ana Primavera. Samuel da Dança queria pedir seu amor em casamento dali a dois anos. Tinha um coração mole e escrevia poemas desesperados e canções alucinadas à Ana Primavera. Curiosamente esta só mostrava-lhe os dentes perfeitos que se escondiam por toda a carne de sua boca, quando virava os olhinhos e voltava a conversar sobre qualquer coisa. O rapaz esperava um amor tão grande quanto o seu em troca, mas ela só lhe dava beijinhos pescoço acima e instantaneamente t

Mais amor, por favor

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Não é dificil me pegar aos soluços principalmente em madrugadas de greves escolares. Culpa mais que parcial de todos os documentários, fotos e ilustrações que me aparecem nesse horário morto. Gente morrendo, gente gritando, gente desacreditada, gente com fome, gente sem casa. Muita gente. São, portanto, as causas dos meus soluços tanta gente e tão poucos olhos para enxergá-las. "Mais amor, por favor", quando você só quer pensar nos seus problemas pessoais e o amor, "por favor", fica só para aquelas pessoas que são inevitáveis não amar. Pode ainda dar pra vocês, pode ser fácil para o resto do mundo mas pra mim já não é mais. Eu não quero achar a fome natural! Eu  não quero achar a pobreza natural! Eu não quero achar corriqueiro crianças usando drogas e abortando filhos no meio da rua. Eu me recuso. Eu quero paz! Eu quero paz pra essa gente, eu quero paz pro meu coração! Eu quero amor! Amor, por favor!! Eu quero energia positiva o tempo todo e poder ter consciência

O Destino Desfolhou

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Em memória de Tânia Beatriz Pacheco Pinto. E para Fanny Abramovich, que me fez lembrar. “Aqui é dor, aqui é amor, aqui é amor e dor: onde um homem projeta seu perfil e pergunta atônito: em que direção se vai?” (Adélia Prado: O Coração Disparado) " VÊNUS. HÁ seis anos, ele estava apaixonado por ela. Perdidamente. O problema - um dos problemas, porque havia outros, bem mais graves -, o problema inicial, pelo menos, é que era cedo demais. Quando se tem vinte ou trinta anos, seis anos de paixão pode ser muito (ou pouco, vai saber) tempo. Mas acontece que ele só tinha doze anos. Ela, um a mais. Estavam ambos naquela faixa intermediária em que ficou cedo demais para algumas coisas, e demasiado tarde para a maioria das outras. Ela chamava-se Beatriz. Ele chamava-se - não vem ao caso. Mas não era Dante, ainda não. Anos mais tarde, tentaria lembrar-se de Como Tudo Começou. E não conseguia. Não conseguiria, claramente. Voltavam sempre cenas confusas na memória. Misturavam-s

Faiblesse

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 Tudo que me lembro do meu terceiro amor é que ela sempre escorregava por meus dedos. Geralmente eu a segurava com força por já saber de seus dotes flúidos, mas ela sempre me escapava cada vez mais agilmente. Como quando nos pegávamos em momentos de maior interação e ela me comprimia com aquele peso insuportável e invisível de sua alma, e eu apenas com o fraco da minha carne tentava esmagá-la com significativo ardor e culpa de ser tão leve para o seu corpo frágil. A amei, principalmente, por seu silêncio sepulcral nas horas que eu menos precisava. Ela sabia que enterrando palavras meus ouvidos a dentro não ia adiantar de nada. Eu só queria enroscar minha carne na alma dela. 14/05

Erreurs

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Sabe, eu sempre fui muito mãezona e moralista. Sempre fui muito apegada aos meus princípios. Aí, subitamente, vem você e eu penso "ah, só mais um pra eu ter que tomar conta" e, realmente, eu tomei uma ou duas vezes. Mas toda aquela moral simplesmente sumiu e quando eu vi eu estava com metade da minha idade e enroscada nos seus braços e fazendo um monte de besteiras e dizendo um monte de besteira e sendo uma grande besteira. E, ah, como eu pude amar no meio de tantos erros e tanta tolerância da sua parte. E como eu me sinto inteira e envolvida nessa euforia apaixonante e como tudo isso me realiza de forma completamente nova e deliciosa! E escorre dos meus poros todo esse amor, meio negado ainda, por você. Eu só quero você muito porque descobri que o amor, o amor de verdade, faz você ter oito anos de novo e ficar tão deslumbrado que só o que é possível é fazer besteira o tempo todo na tentativa desesperada de entender como cabe tanto sentimento dentro de você.

Arbre sec

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Às vezes me dá tanto aperto no coração. Ver as coisas passarem, ver as pessoas passarem. Sentir que tudo e todos vão deixando devagarinho meu coração pra depois de um bom tempo voltar com uma apunhalada de surpresa. Daquelas que nem quem está com a faca nem quem foi ferido tinha a intenção de machucar ou sair machucado, e sim num pulo de excitação e ansiedade de maltratar de tanto amor. Eu tenho tanto amor enroscado nas minhas entranhas, eu tenho tanto pra dar e eu só dou ódio e indiferença e as pessoas acham que eu sou imune a tudo mas na verdade é a falta de vocês. É a falta de vocês todos juntos naquela esquina sujando suas calças na calçada e fumando aqueles cigarros que cada um dava um pouquinho pra comprar. São vocês a minha falta e o meu amor me apunhala sempre que eu vejo fotos ou lembro dos momentos ou escuto as vozinhas de vocês falando em tons diferentes no mesmo momento. Eu não fui quase nada parte disso mas é tudo tão parte de mim. É tudo tão bonito e tão doente e tão r

Salope

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Je suis belle

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Sensação de água fria nos dentes

Dorzinha, fresco agonia, gosto bom, mau

La gomme

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Eu nunca gostei de goma de mascar. Provavelmente pelo fato de que há sempre uma explosão de sabor quando é posta em contato com as papilas degustativas na parte superior da língua. Com o tempo talvez até você se apegue a essa borracha mastigável e colorida, de forma que fica difícil se livrar dela: começamos a brincar com a mesma, jogando-a de um lado para o outro da boca como se as bochechas brigassem para não ficarem com a mesma, jogando-a uma contra a outra, ou fazendo as tão famosas bolas quase transparentes enchidas por um rasgo na boca onde se sopra o ar. Você pensa inúmeras vezes em jogá-la fora; mas o lixo é muito distante, ou a preguiça é maior, ou não deu a hora do almoço ainda e, enfim, lá ela continuará sem sequer saber que o seu juízo final está por vir. A partir do momento que os maxilares finalmente se cansam da mastigação interminável e o sabor não passa de o da sua própria saliva, de repente seja esse o momento para finalmente descartar aquela goma que fora motivo

Ressaca moral

Tem vezes que a única ação possível a ser tomada dentro do poço é cavar mais. A vida é um ciclo vicioso que te faz deparar sempre com um carrossel de emoções. É impossivel dar atenção a tudo e a todos quando você mesmo carece dela. É como ir numa boate no inferno: você sabe onde está, mas simplesmente ignora jogando sua cabeça em cima de um alguém qualquer ou dentro de um copo de uísque. No dia seguinte, no entanto, além de estar no inferno vai bater aquela ressaca do capeta (sou boa com trocadilhos, pode falar). Aceitar a si mesmo, à sua própria vida, não é nem um pouco fácil. Queremos sempre mais. Isso talvez seja o que nos põe para frente, mas ao mesmo tempo nos dá mais alguns metros de profundidade no poço. Drogas, cânceres, libido a flor da pele e falhas de comunicação: tudo junto de forma sádica. E eu continuo dançando e enchendo a cara só me preparando para a porrada na cara que vai ser acordar no inferno. De ressaca.

Para uma avenca partindo

por Caio Fernando Abreu em O Ovo Apunhalado Olha, antes do ônibus partir eu tenho uma porção de coisas pra te dizer, dessas coisas assim que não se dizem costumeiramente, sabe, dessas coisas tão difíceis de serem ditas que geralmente ficam caladas, porque nunca se sabe nem como serão ditas nem como serão ouvidas, compreende? Olha, falta muito pouco tempo, e se eu não te disser agora talvez não diga nunca mais, porque tanto eu como você sentiremos uma falta enorme dessas coisas, e se elas não chegarem a ser ditas nem eu nem você nos sentiremos satisfeitos com tudo que existimos, porque elas não foram existidas completamente, entende, porque as vivemos apenas naquela dimensão em que é permitido viver, não, não é isso que eu quero dizer, não existe uma dimensão permitida e uma outra proibida, indevassável, não me entenda mal, mas é que a gente tem tanto medo de penetrar naquilo que não sabe se terá coragem de viver, no mais fundo, eu quero dizer, é isso mesmo, você está acompanhando me