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Affichage des articles du septembre, 2008

#01

E se importava-se não mais sabia. Seus delicados pés encontravam-se brutamente quando os batia um contra o outro, no nervoso do frio grotesco. Era bem tarde e o parquinho já não tinha mais crianças brincando. “Também, quem viria a um parque com esse frio?”, se perguntou, quase por um segundo pensando em desistir. Mas resistiu. Continuou batendo seus pés um contra o outro, devagar. O vento cortava-lhe as bochechas, sentia o muco tentando engoli-la. Pigarreava uma, duas, três vezes e nada. O céu estava nublado, bem diferente do de costume. Suas coxas, geladas, sofrendo com o vento, se mexiam rápido e agonizantemente. Despertou de repente. Olhou, o céu ainda estava nublado. Bateu os pés. Dormiu. Um pipoqueiro parou do seu lado: “Quer pipoca, menina?”, perguntou. Ela queria. Meteu as mãos depressa no bolso esquerdo, depois no direito. Nada. Aquela esperança de comida talvez matasse sua agonia, mas não poderia comer, não tinha absolutamente nada para pagar o saquinho de pipoca. O pipoqueiro

Reflexões, parte I

Antigamente eu me lembro de estar sempre calada, na minha. Normalmente o único ser com o qual eu tinha maiores diálogos era com a minha irmã, e mesmo assim naquela época ela era pequena, portanto ou não entendia nada ou saia correndo pra falar pra todo mundo. Eu gostava de escrever, secretamente gostava que as pessoas lessem o que eu escrevia, também, só pra saberem como estava me sentindo. Com um tempo, ser xingada, rirem de mim e me ignorarem já fazia parte da rotina. Eu não ligava muito, mesmo que não pareça eu acho que fui uma criança feliz. Passava praticamente todo o meu tempo na casa dos meus avós, dessa forma nunca poderia me queixar de não estarem me dando atenção. Aos poucos eu comecei a crescer, as pessoas começam a falar que você não pode ser submisso nem ouvir calado, que você deve agir, ser você mesmo, defender seus ideais e não se deixar influenciar. Mesmo assim seria difícil largar minha vida silenciosa a uma na qual eu defendesse o que penso, dou respostas rápidas e...

Narciso e Narciso

Se Narciso se encontra com Narciso e um deles finge que ao outro admira (para sentir-se admirado), o outro pela mesma razão finge também e ambos acreditam na mentira. Para Narciso o olhar do outro, a voz do outro, o corpo é sempre o espelho em que ele a própria imagem mira. E se o outro é como ele outro Narciso, é espelho contra espelho: o olhar que mira reflete o que o admira num jogo multiplicado em que a mentira de Narciso a Narciso inventa o paraíso. E se amam mentindo no fingimento que é necessidade e assim mais verdadeiro que a verdade. Mas exige, o amor fingido, ser sincero o amor que como ele é fingimento. E fingem mais os dois com o mesmo esmero com mais e mais cuidado - e a mentira se torna desespero. Assim amam-se agora se odiando. O espelho embaciado, já Narciso em Narci

Corte-ei-me

"Por que você me deixa [...] descontrole? [...] tirar o ar do meu corpo [...] tocar. [...] o que incomoda essa sua cabeça confusa. [...] aqui comigo. [...] talvez eu espere mais. [...] esperamos [...] entenda. Sei lá. Provavelmente [...] tanto que espero e minto para mim mesma diariamente [...] amo." Trechos de um texto beeem velhinho.